"Se a tua dor te aflige, faça dela um poema!"

Vinte.

Sentou na varanda sozinha, enquanto a chuva caía pensava, embora balançasse a cadeira antiga deixada de lembrança pelo avô. O vento batia fresco no rosto, deixando a respiração profunda e tão límpida como havia de ser.

A estação caiu como uma luva. A chuva veio parando e o sol voltava de conjunto com um arco- íris deslumbrante. Acontecia que era um ciclo vicioso, e cada gota na folha do pé de goiaba caía lentamente uma na outra e assim molhava o chão.

Sentia-se no paraíso.

Agradecia em silêncio todo aquele privilégio. O cheiro das flores que agora estavam encharcadas reinava sobre o ar, perfumando até a última narina que respirava durante a tarde toda. Seu coração antes perturbado, havia se acalmado.

Sorriu.

Soltou uma gargalhada e não acreditava que até então se contentava com aquela simplicidade que aguçava e adoçava cada vez mais sua felicidade. Respirou bem fundo novamente, abriu bastante os olhos como se estivesse decorando tudo que via e sentia.

Fotografou num só olhar; bastou.

Fechou os olhos, a cadeira já não balançava, estava bastante concentrada, pois não queria passar tudo vivido para o papel e ser esquecido na ponta de qualquer lápis. Apertou os olhos como se tivesse derrubado pimenta bem ardida.

Estava em paz.

Lembrou-se que era primavera então. Percebeu que faz vinte bonitas primaveras que sorri o mais sincero que pode.

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