"Se a tua dor te aflige, faça dela um poema!"

Na praça.

Sentei- me na cadeira de balanço na praça. Não havia nenhuma criança ao meu lado, só uma a minha frente quando me sentei ali; parou de brincar com a areia sorriu para mim por um tempo e ficou sorrindo sem explicação ou tentando explicar querendo contar- me algo, como se não soubesse como poder contar só daquela forma tão inexplicável, intensa.

Havia tempos que não via um sorriso assim... Singelo!

Sorri de volta, como forma até de agradecimento pelo sorriso sorrindo pelos olhos brilharam, brilhavam; era disso que gostava que necessitava.

Comecei com notas simples sem nenhuma letra em mente, aqueles ares me faziam tão bem, com o sol fresquinho. As cordas do meu violão pareciam tocar sozinhas.

A criança continuava agora brincando ao som dos meus dedos e parecia que nada mais importava além da música que soava bem naquele momento e da areia em suas pernas; uma borboleta pousou em seu nariz, precisava de uma fotografia toda cena para registrar tempo tão inesquecível mesmo que simplório. A fotografia precisaria guardar aquele som das suas risadas do cheiro daquela areia e a cor do sentimento ali pousado no chão.

Eu sorri por uns instantes, por nada e para nada. Por estar assim, talvez.

Voltara para casa com uma letra que parecia agora importante e uma cantiga penetrante para quem virá ouvir.


Espere vou toca- la!

Um questionário.

“O amor é a coisa mais alegre, o amor é a coisa mais triste, o amor é a coisa que mais quero.” (Adélia Prado)


Não havia sono que amortecesse meu corpo. Consegui dormir pouco menos que três horas e foi o suficiente, minha mente trabalhava constantemente, tocava a mesma música da noite passada o tempo todo...

De pijama sentei-me na varanda, senti o vento bater forte em um dos lados da face como se quisesse me ferir, o vento gritava eu conseguia ouvir, quis dizer-me algo, não podia entender mesmo que quisesse fiquei por lá um bom tempo ali sozinha, preço nenhum pagara ouvir o próprio coração batendo forte e lento por alguns minutos. Me senti só por mais que um instante senti- me só por completo nessa manhã, até de mim.

Resolvi entrar, preparei café bem forte e fiquei um tanto melhor, mas não como queria, tudo passava pela minha cabeça da noite passada, o gosto do choro quando você chegou junto das mãos mais frias que meu corpo, parecia não estar em mim, eu contava para as minhas amigas a história que estavam cansadas de saber, contava sem entender os porquês sem compreender, isso nunca aconteceu antes, nunca me senti assim por ninguém é tão difícil! Eu dizia com a voz tremula engolindo o choro que poderia ter amado alguma vez mais não como consigo amar hoje, esse amor; Lembrava-me em ver seus olhos olhando os meus e tudo em segundos, tudo que fizera ali tão sem importância e significância ficava mais inútil em minha vida ainda depois que eu pegara o celular aos prantos e escrevera sem sucesso, muito confuso como todas as outras vezes para ele! Tudo passava em um segundo pela minha mente vagarosamente, pelo meu coração e doía como a primeira vez. Precisava bem mais do que silêncio, já me cansei do silencio pairando ele dói mais do que qualquer xingamento. Havia necessidade de algumas palavras, confortáveis ou duras, mas de algumas... Deixei a xícara de café na mesa da sala e corri para o quarto de minha mãe, deitei- me junto dela respirei e despejei o que tinha acontecido. Senti leve suas mãos em meus cabelos enquanto ouvia, assim parecia estar protegida de todas as coisas, ficamos em silêncio até que saíram doces as palavras de quem é sábia de quem quer meu bem e disse que não havia nada de errado comigo ou no que havia acontecido; eu, a questionava sem parar, ela dizia que não devia me sentir assim. Percebo, depois de muita insistência que não havia feito nenhum mal para nenhum de nós dois havia seguido em frente, só estava com medo se “em frente” era mesmo o que eu queria ter enviado algo pode ter sido desnecessário, confesso, quando a escrevi relatei que seria mesmo que muito amável um tanto quanto incomodo... Mas já havia feito. Agora me diga, por que não consigo me sentir melhor? Por que o que eu sinto me faz bem e mal ao mesmo tempo me fazendo esquecer o mal quando totalmente me sinto bem? Seria certo sentir- me como se nada houvesse acontecido? Resolveria?

Algo me prende, me rende...




“A razão é sempre mesquinha quando se coloca ao lado do verdadeiro sentimento...” (Homoré de Balzac)

Despida.

Fui capaz de andar sozinha por semanas. Ora um alívio, ora um martírio. Mas é certo que deu tempo de pensar em muito que ainda não havia pensado ou que tinha passado por reflexos na mente. Dizem que é precipitado falar antes de pensar, agir antes de pensar e de pensar antes de amar. É tão fácil mesmo com todas as minhas crenças a frente de horas complicadas me perguntar “cadê o protetor do qual venero pra todos? Deus às vezes parece se esquecer tenho até medo em dizer...”

Parei para tomar café. Cheguei fechar os olhos com a impressão de sentir melhor o aroma que entrava em minhas narinas que de tão profundo chegava a minha mente, me trazendo recordações tão antigas quanto o que já sentira algum dia.

Degustei aquele momento por uns bons minutos fazendo- me atracar em medos que há tempos não sentira mais que agora era bom sentir. Parece louco! Consegui reviver várias partes, ali sentada naquela varanda de bar aconchegante que parecia estar na casa da vovó, junto dela ouvindo as histórias tristes e gostosas de serem ouvidas. Poderia passar a vida ali. Porém resolvi levantar e caminhar um pouco sentia- me bem estar sozinha porque queria e senti o vento batendo fresco nas maçãs do rosto, aquilo sim era vida, sensação rápida e tão penetrante como aquela só sentira há anos atrás.

Foi se escurecendo, o sol ia se pondo deixando o céu cheio de cores vivas, intensas, quase escuro inesquecíveis para o momento. Encontrei um lago, sentei- me na grama, uma grama verde e fofa que dava dó de feri-la. Concentrei-me no horizonte que puxava- me como um ímã tentando tirar de dentro do meu peito e da minha mente todos os meus segredos, todos os meus medos e alegrias, senti vontade de contar já que só havia aquele pôr- do- sol, a água, a grama, o ar pura e a mim. Senti-me a vontade. Deitei- me ali mesmo. Esperei as estrelas brilharem para mim e contei todas que consegui, foram muitas e para cada uma que brilhava contei um segredo. Acho que algumas chegaram a rir dos meus medos. Gostei da minha companhia, finalmente. Agora era necessidade repetir a dose. Dias e dias se passaram e repetidamente enviava para os céus as perturbações do meu mundo, sentia- me mais aliviada, feliz por não me sentir sozinha. É tão constrangedor descobrir que fatos tão simples fazem de cada hora do dia ser uma vida fabulosa, quero me encontrar com elas todas as noites, assim despida de mim.

SoL e Ar.

"Começou o dia. Raiou o sol banhou meu corpo me senti quente como num abraço. Flutuei com meus próprios braços; Olhei pro céu sorri pras nuvens, reunidos ouvi os pássaros cantarolando e senti o frescor do ar balançar os cabelos continuei a caminhar, corri e até brinquei de andar no preto sim e no branco não. Reuni forças, me rendi. Sinto- me livre.

Fechei os olhos por quase um segundo nele vi o mundo parar e só eu a girar, girei. Consegui até sonhar, me belisquei.

Um instante!

Estou cá de volta, espere!"