"Se a tua dor te aflige, faça dela um poema!"

O galãteador. Parte I



Era um velho sistemático, inculcado, cheio de manias. Seus netos o achavam meio ranzinza, mais tinha um coração bom, grande - todos sabiam. Foi à criação, a vida que o transformou meio-que-arisco-com-todos, por medo. Medo de perder.


Quando mais jovem chegava do colégio e ajudava o pai na roça. Colhia alguns tomates quase maduros que a mãe vendia pela manhã no mercado da vila. Tomava banho e depois dava banho nos irmãos; todos eram mais novos que ele, uns seis, cinco anos cada um.


Jantavam em silêncio.


Na época não tinha tevê, era mesmo coisa para rico e ninguém ali tinha intimidade com as palavras, mesmo com todo o silêncio que a falta de tevê talvez gerasse.


Mas com os olhos...!Ternura!Compaixão!Amor!Diziam tudo com esses mesmos olhos, olhos cheios d’água, olhos cheios de brilho ou de doçura. Cheios de cansaço, cheios de esperança e desesperança também. Oh! Era tudo ali, onde mostravam o quão sinceros.

Todos dormiam cedo já que o dia também era despertado com o cantar do galo. Mas ele, o velho agora, sempre acordava no meio da noite e ligava o único radiozinho de casa, bem baixinho e ficava lá agachado, sozinho sorrindo e cantarolando na cabeça até dormir. E quando isso acontecia, o que era raro já que tinha medo de alguém o encontrar no meio da noite acordado, saía correndo quando ouvia o primeiro despertar do galo.

Lá e aqui.


É como se a paz houvesse batido em minha porta.
No meu coração.

E eu tenha aberto com toda a alma, e dito:

"Não sáia daí mocinha, aqui é o teu lugar!"

Prazo de validade.




E há um vazio que alguém dará um jeito. Nem que eu guarde no pote, sacudo o pacote, revejo o meu dote e chego até leiloar o meu coração. Valerá pouco, machucado está mas quem olhar nos meu olhos, verá que tem amor sincero para entreguar.
Olharei agora pro céu, verei as nuvens me contagiar. E tudo-tudo-quase tudo- assim como quem num quer nada, verei alguém que me sorrirá.

Número Seis.

Planejo sim. É o melhor que hoje se pode ter de mim.
Quero seis filhos que tenham nomes de
Francisco, Alícia, Antônia, Bento, Allegra e Benjamin.



Comprarei uma casa que tenha corredores,
onde possamos brincar de pique- esconde;
enquanto falo para escovarem os dentes para
ir pro colégio, depois que comem.



Fecharei todas as cortinas para que o sol não
estrague a mobilha.
Chegarei do trabalho depois de buscar as crianças,
e o sol estará se pondo, como era na infância.
Aquela luz baixa aconchegando o nosso lar,
mal posso esperar.

Planejarei o viveiro que sempre quis,
que estivesse por lá.

Estavam bem, sentados.

O dia esteve muito tumultuado.
Acabei de chegar em casa.
Estava um vento forte lá fora, porém, agradabilíssimo. Na ida, só pensava no bilhete que teria de comprar para o cinema, depois, com o decorrer da música tocando no carro os pensamentos foram aflorando até chegar não pensar em nada.
Veio um silêncio de dentro, o locutor da rádio disse que eram 21:26.
Passei em frente o parque. Vi a lagoa.
A música continuava a tocar; admiro cantoras de voz rouca, fica tão sedutor.
Mas adiante vi um casal, estavam sentados um de frente para o outro e num piscar de olhos vi o rapaz dando a sua garota um sorriso tão bonito que me fez ganhar o dia.
Acabei de chegar em casa. Ainda estou sorrindo!

Vinte.

Sentou na varanda sozinha, enquanto a chuva caía pensava, embora balançasse a cadeira antiga deixada de lembrança pelo avô. O vento batia fresco no rosto, deixando a respiração profunda e tão límpida como havia de ser.

A estação caiu como uma luva. A chuva veio parando e o sol voltava de conjunto com um arco- íris deslumbrante. Acontecia que era um ciclo vicioso, e cada gota na folha do pé de goiaba caía lentamente uma na outra e assim molhava o chão.

Sentia-se no paraíso.

Agradecia em silêncio todo aquele privilégio. O cheiro das flores que agora estavam encharcadas reinava sobre o ar, perfumando até a última narina que respirava durante a tarde toda. Seu coração antes perturbado, havia se acalmado.

Sorriu.

Soltou uma gargalhada e não acreditava que até então se contentava com aquela simplicidade que aguçava e adoçava cada vez mais sua felicidade. Respirou bem fundo novamente, abriu bastante os olhos como se estivesse decorando tudo que via e sentia.

Fotografou num só olhar; bastou.

Fechou os olhos, a cadeira já não balançava, estava bastante concentrada, pois não queria passar tudo vivido para o papel e ser esquecido na ponta de qualquer lápis. Apertou os olhos como se tivesse derrubado pimenta bem ardida.

Estava em paz.

Lembrou-se que era primavera então. Percebeu que faz vinte bonitas primaveras que sorri o mais sincero que pode.

Compra- se!

Procura- se máquina de escrever para se comprar; velha ou nova.
Pago em dólares,
euros ou até em barras de ouro. Mas não importo por quanto vou ter que lher dar. Entrego- te minhas flores preferidas, uns buquês de gardenia até se precisar.
Todas as cantigas que já rabisquei,
os poemas que constatei,
as palavras que xinguei, terão folhas com remetente, tinta vermelha e a assinatura com caneta se quiser bic de cor azul.
As folhas com o tempo estaram todas amareladas, talvez amassadas
cheirando a antigo com poeira de guardada na gaveta.
Grampearei e colocarei no correio.
Mande- me secretamente o teu endereço?

Mônica.

De início discutíamos teu nome, até sobrenome sem nem mesmo ver você. Debaixo de uma árvore, estava o sol a dizer que jamais teria visto cena tão linda de viver.


Querida, não houve nem chance de poder te ver renascer, queria ter tido tempo de ao menos lhe conhecer.
Pegá- la no colo, ver teus olhos castantos e pequenos que nem de meu Amor, que falava junto de mim sobre você.



A árvore continuar por lá, a esperar para uma fotografia.

Pr'aqui.

Don´t be thereabouts, return here.
Don´t need to stick me, be enough to be here.
Wakes up in this brilliant morning and see the sky,
See any scenery, up to the sun from here it smiles for u.
Return, return here!
Look at the sides, there all the clouds are,
I ordered to write ' I´m missing '.
It´s hurting these longings.
Don´t be thereabouts, return here.

We are all you waiting, with bouquets of yellow roses,
with the room full of cushions in the ground.
I rented his favorite movies.
I bought his cigarettes, we smoke together. One will want, I give u mine.
But Don´t be thereabouts, return here.

I don´t tie u. I don´t see you, only one will be going to need by chance
breathe them to me here, breathe the same air than I.

Come, don´t be in a hurry. Only I am in a hurry!
All the vinis what I bought for u are here,
opened by me, I listen to all, every day to remember of the color
chestnut of your small eyes, littleboy.
I will hand him over all, I need. If it does not come I will stop hearing,
I will paint the walls of my room of white and will be going to glue all in the walls,
so I see you, since I wake up and up to the end of the times.
Don´t be thereabouts, return here.
Return here then...

Doutez de tout, mais n'hésitez pas ...

Duvide que um dia falte ar,
Duvide que o sol não volte a brilhar,
Duvide que cada gota de chuva não venha
escorregar pela grama,
Duvide das asas batidas de cada pássaro
que voou durante todo esse ano,
Duvide que o mundo não gire,
Duvide das horas do relógio,
Duvide da noite passada,
Duvide da voz sussurrada,
Duvide dos olhares que te lançaram,
Duvide do cheiro da fumaça
do cigarro,
Duvide da luz do dia
Duvide das letras de música,
Duvide que os caminhos não há de trilhar,
Duvide do passado, do presente,
do futuro,
Duvide deles, delas
Duvide disto, daquilo ou de tudo que talvez
já fosse tarde,
Duvide que não vá poder mais
abrir os olhos e ver o deslumbrante
ou o decadente,
Não importa como acabe.
Mas não, ne jamais douter de mon amour
Desse tamanho amor.

Fones de Ouvido.

Na carteira há um tempo limite e não passava de forma alguma, tomei o primeiro ônibus que passara; estava irritadíssima.
Com os fomes de ouvido, distraíra- me com tanta gente, tocava The Beatles Rock Band "words of love", repara-se que a maioria das pessoas que passava pela frente ou até fora também ouvia uma canção.
Escutei uma interferência. Parecia canções sem melogia, eram vozes soltas. Vozes tristes, outras felizes. Podia ouvir os pensamentos dos que estavam a minha volta.
Rumores.
Quando percebi parecia ver olhos para cima de mim, era impressão. Talvez!
Desconfortável, formidável também.
Olhava para frente e seguia viagem; ainda cansada.
Vi uma garota sorrindo sozinha sem se importar, olhar melancólico e apaixonado; ouvia uma música que dizia mais ou menos assim: "you don´t realize how much I need you, love you all the time, never leave you." Parecia cantá- la com o coração, via sinos e estrelas mesmo que á tarde. Comemorava antecipadamente e só o primeiro dia dos namorados que passaria com o primeiro amor. Não continha sua alegria, sua fraqueza, a bambeza das pernas, seu coração palpitava de acordo com o amor que a mantinha viva. E como estava viva agora!
Desejava mais do que trocas de presentes, mais do que entregar o que havia preparado cuidadosamente com suas próprias mãos, desejava que o dia chegasse logo para que ficasse todos os centímetros de momento em suas memórias para sempre, indescritível. Que deixasse ambos sem paravras de tanto amor, que os olhos se mostrassem ternos, carinhosos e molhados, que as mãos estariam como na primeira vez, juntas como um ímã, como se nunca estivessem separadas algum dia.

E quando pude além de ouvir tudo isso do seu coração, sentindo, veio- me uma imensa vontade de chorar, de tanta paz; Por ter vivido esse primeiro amor todos os dias, além...

Contente

Abraça- se debaixo do sol bem quente, do frio as vezes ausente
No céu poucas nuvens parece Deus, só trazendo luz
Me iluminou, veja. Um único que só? contato ardente, sente- se a pele fica- se contente responde a qualquer pergunta ou dúvida, protege- se do frio esquenta o coração, na ausência prolongada, na solidão pertubada ou só por alegria, talvez por ócio ou até monotonia. Tem mais significado que palavras de dois dicionários então, que as palavras desenhadas na areia da praia ou no chão. Os dias estão frios, mas as pessoas estão me rodeando, deixando- me bem, isso me contagia. É mais do que carinho repleto, coberto ou camuflado e descoberto de tanto amor, amizade
e cumplicidade talvez por início, meio ou por fim.
Recomecemos!
Reflete o amor que se não consegue explicar por imensidão, imensidão de tanto amor seja qual for.

Pra todos os dias.


"Só sei dizer que eu a amo demais, viver sem ela sei que não sou capaz; preciso tanto desse amor pra viver (...)"

Não existe compreender esse amor, esse tamanho
amor de uma mãe para um filho. Não existe amor maior, cheio de ternuma, respeito e alegria. Mamãe, melhor presente. O presente de todos os dias. Amor inexplicável, não pede nada em troca, nem de manhã à tarde, a noite em qualquer dia.
Se for preciso leva bronca até de manhãzinha e se for para defender seu filho vira mestra em terra, água, céu no inferno, dentro de casa ou fora, com amigos ou não leoa, tigreza, vira um bichão. Para defender de qualquer encrenca, briga ou confusão. "Não fale, não fale mal de meu filho, que só eu falo de meu amor com razão." A melhor amiga, compaheira sem limites, feminino de amor, razão das nossas vidas, felicidade profunda, amor, ternura e compaixão; Respeito por tudo, grito a minha de mamãe ou de alegria sem motivo ou com toda a razão.

Ela transborda meu coração de amor!

Entre Pétalas

Caminhei pelo bosque e achei rastros sem fim,
era difícil me encontar
por tanta falta de caminho.
Busquei até a última pétala,
que me mostrava um novo destino; aquele
Onde me esquecera de tudo que estava sem um ponto,
sem um fim.
Que me fizera abrir a janela todos os dias de manhã, a tarde ou a noite
talvez constantemente aberta
Para sentir o vento secar minhas lágrimas
que hoje já nem me lembro que havia tido tanto, tanto
assim...

Clipe Retrocesso

*Leia de preferência ao som de Fluorescent Adolescent- Arctic Monkeys.*

O quarto bagunçado, roupas pelo chão; lá fora totalmente frio.
Da janela entreaberta dava para sentir o fresquinho do ar. Vimos o sol, apesar...
Vestia uma calcinha azul larga, meias e sua camiseta branca.
Corríamos em volta da cama, rindo sem parar. Tocava Fluorescent Adolescent, e parecíamos protagonizar o clipe da melodia, só da melodia.
Derrubou- me entre os lençóis.
Tomou- me pelos braços, apertou- me.
Mostrou- me que era tua em cada respiração, tal qual estava ofegante, molhada, cansada, intensa.

Fechei os olhos e senti como na primeira vez que não havia lábios que já tivesse sentido que combinasse tanto quanto o seu, quanto o nosso.
Senti vontade de chorar, a felicidade era tão completa, congestionada, tão recíproca e revivida, que a alegria surtava pelo meu corpo em formas de gotas salgadas.
Cada toque, a serenidade dos nossos corpos. Senti-me como se pudesse morrer agora desde que tudo fosse sempre assim, desde que estivesse à vida inteira comigo aqui ou ali.
Vi nos teus olhos teu amor profundo e teu medo de que nada disso pudesse ter acontecido se não tivesse feito a escolha certa.
Acordei no mesmo quarto de apartamento, nos mesmos lençóis agora tão frios quanto lá fora, o vento que entrava pela janela; mas você: você não tinha feito a escolha certa!

Ritmizado

"Ele disse: ― Eu não vou me esquecer de você.
Ela disse: ― Nem eu."

Era tudo tão profundo e a proporção dos sentimentos era tão intenso. Os sentimentos eram tão prematuros. Tão novo para os dois. No decorrer dos dias o amor renascia! Eu vi nos teus olhos, você viu nos meus olhos. Por isso de tanto amor. Por isso de tantas entrelinhas. Dizem que: "o verdadeiro amor sempre há obstaculos." Passe o tempo que for, as pessoas que chegarem em nossas vidas... são só participações. Um contexto. Um pretexto. O elo ainda não se fechou. Depois da conversa, era tão difícil. Parecia que os instantes estavam esgotados de indecisão. Olhavamos para baixo; pairou silêncio. "Estenderam as mãos um para o outro. No gesto exato de quem vai colher um fruto completamente maduro."
Nos abraçamos!
Os corações batiam no mesmo ritmo. Não é possível que isso não significara nada, agora ou adiante. Só um coração bate em um único ritmo. Não sabia porquê estávamos fazendo isso.
Ele tinha uma explicação incoerente, parecia ter medo de onde o nosso amor nos levaria. Seria bem mais a fundo, nós sabiamos! Ainda nos levara longe. "As palavras não dizem tudo, não dizem nada. O momento me esmaga por dentro. O espanto esbarra em paredes pedindo exteriorização." Estavamos calados, depois de um tempo abraçados.
Seguimos em silêncio! De um "até logo" demos um sorriso meia- boca que não se completavam. O que foi desconfortável. O silêncio foi essencial nessa parte da nossa história. Ele disse tudo por mim, disse tudo por ti. Eu sei, você sabe! E todos ainda vão saber. "Mas foi bonito. Não tinha importância que não desse muito certo. — Repetiu: — Nós só tínhamos vinte anos.






Ainda tinha seu cheiro.

É como se soubesse por onde começaria a próxima manhã.
Necessariamente a lua naquela noite falava comigo; depois do jantar caminhávamos de mãos dadas um se equilibrando no paralelepípedo e o outro na rua; rimos de histórias contadas no caminho vividas por cada um pois apesar de tanto tempo juntos não havíamos tido tempo de mencionar algumas palavras ditas só agora.
O vendedor de algodão doce estava se preparando para ir embora até que me entregou um de cor azul. Sorri. Sentamos logo adiante na porta do prédio e ficamos pestanejando. Adoçamos a vida apenas com o doce do açúcar. O silêncio reinou e mesmo sem nenhum ruído enquanto estávamos ali havia um som pesado, quase que fúnebre, que podia falar por nós dois.
Encostei minha cabeça no teu ombro e depois de minutos ali confortavelmente, sentindo seu cheiro, resolvemos subir para nosso quarto. Era contínuo todo o silêncio, só o escutei colocando o copo d’água no criado- mudo do lado da nossa cama. Estávamos deitados, intactos cada um virado para um lado. Ouvi nossas respirações, até algumas batidas do coração. Confesso que mesmo que os olhos estivessem fechados continuava acordada.
Olhava o despertador e as horas passavam menos mesmo que já tivesse havido muito tempo que estávamos deitados e nessa noite por sinal estava tão fria. Até que ouvi seus passos tentando ser cautelosos como se pisasse em ovos, recolhendo seu relógio e as roupas. Calçara o chinelo.
Quando percebi que se aproximava do meu rosto, fingi estar dormindo, sempre temi que acontecesse. Ele soltou um beijo em meu rosto e senti uma lágrima sua escorrendo em minha pele e pude sentir o gosto do sal que entrava em minha boca. Já era tudo tão amargo agora. Saiu! Escutei a porta batendo.
Olhei para o relógio, passara das cinco da manhã e o frio já não era o mesmo; conseguira congelar minhas pálpebras e nem mesmo a freqüência da respiração era a mesma. Ficou tudo muito lento de repente.
Peguei seu travesseiro, ainda tinha seu cheiro. Coloquei junto do meu, sentei ali na cama e acendi um cigarro. Foi ao final dele o início do meu sono.
Mas quando então estava num sono pesado o despertador apitou e eu sentira novamente o mesmo peso do silêncio da noite passada; era a primeira manhã que passara acordando sem as mãos do meu amado em meus cabelos.
Fiquei estirada na cama. Surpreendentemente estava aliviada, enfim!

Fui preparar um café bem forte e encontrei ao lado da açucareira um bilhete dizendo assim: “Para não me esquecer do teu olhar terno, guardarei a noite de ontem sendo como a primeira das mais doces que já tivemos, de todo seu...”

De roupão.

O que queria era chegar do trabalho tirar os sapatos apertados, por que sim, eu os colocava propositalmente para que no fim da noite pudesse pegar um balde d’água quente com alguns sais de banho e colocá-los lá.
Um puro prazer.
Tomei um banho bem quente.
Imagine só o banheiro já estava todo embaçado, escrevi no espelho um nome e sorri.
Aquela sensação era tão jovial, fazia tempo que não sentia mais nova do que era; nova quando falo é por dentro porque por fora?
Ah, por fora os traços do tempo me faziam sentir completa e realizada, ainda por já ter vivido e feito tudo que fiz.
Preparei um chá, ainda estava de roupão.
Sabe quando está frio, você pouco coberto e tomando algo quente?
Era assim, e eu gostava dessa pouca sinfonia e de tanta sintonia, entre o tempo e eu. Parecia falar comigo, apesar de parecer louco. Sinto-me bem com a simplicidade do que tenho.
Sentei-me na poltrona, coloquei meus pés na mesinha de centro, e comecei a terminar de ler um dos meus livros preferidos. Há meses venho lendo e tenho medo que acabe. Onde encontrarei livro tão bom e completo assim?

Vinte e Quatro Horas.

As borboletas tem um caso
dentro do meu espaço, ficam todas no meu quarto
vira e mexe encontro uma
deve saber da minha paixão
acho que entendem de coração.
Vejo todas camufladas com a poeira do chão. Me
mande algum bilhete ou outro cartão? As cores ainda
estão vivas, mas já batem as asas com lentidão.
Não pare! Lute!
Esqueço- me que a magia da vida
dura apenas vinte e quatro horas.
Pois então, eu jamais desacreditei em superstição, será ter alguma ligação sempre as borboletas pousarem no meu chão?




Na sintonia dos olhos.


Estava no metrô.

Passei horas andando somente para poder pensar, pensei e me decidi.

Parei na porta, avistei várias luzinhas para chamar a atenção de quem passava por ali. Respirei fundo, entrei!

Depois do acidente, tive medo. Não gostava nem de falar sobre o assunto, nem de lembrar e de saber que um dia, tudo foi diferente. Continuei, cheguei quase perto da porta de algumas das salas mais próximas e ouvi bem baixinho o som da canção. Meu coração estava disparado. Senti medo, mas tive que enfrentá-lo. Fiquei olhando por um tempo. Tenho certeza que meus olhos brilharam, de felicidade por ter conseguido chegar até ali e novamente sentir vontade que havia fugido desde o incidente e por tristeza meus olhos se enchiam d’água por tudo que havia acontecido e por tanto tempo que havia perdido.

Concentrei- me. Estava tão atenta que me esqueci das horas. Foi quando levei um susto gigante, como se tivesse cometido uma falta enorme até; Saltei do chão! Senti uma mão no meu ombro. Logo olhei para trás e era a secretária. Suspirei de alívio. Não queria ser reconhecida, gostaria da paz do momento. E felizmente a moça me perguntou só se precisava de algo. Respondi que não, que já estava de saída. Ela saiu então. Continuei onde estava.Penetrei meus olhos naquela coreografia, achavatão lindo. Vi que a dançarina cometia alguns erros por não estar tão concentrada quanto devia ou por pura obra do acaso e com isso voltava á vontade de poder comandar a sala e ajudá-la. Vi-me sozinha e acompanhei minuciosamente todos os detalhes e continuei fazendo lá fora todos os passos. Senti meu corpo leve como das outras vezes que dancei, estava até mais aliviada. Sorri, olhando pára baixo, peguei a bolsa e quando ia me despedir com o olhar, antes que a próxima música acabasse e eles parassem de discutir (sim, porque o parceiro da dançarina já não agüentava a falta de concentração de sua parceira.) ia saindo quando uma voz suave me chamou...



Na praça.

Sentei- me na cadeira de balanço na praça. Não havia nenhuma criança ao meu lado, só uma a minha frente quando me sentei ali; parou de brincar com a areia sorriu para mim por um tempo e ficou sorrindo sem explicação ou tentando explicar querendo contar- me algo, como se não soubesse como poder contar só daquela forma tão inexplicável, intensa.

Havia tempos que não via um sorriso assim... Singelo!

Sorri de volta, como forma até de agradecimento pelo sorriso sorrindo pelos olhos brilharam, brilhavam; era disso que gostava que necessitava.

Comecei com notas simples sem nenhuma letra em mente, aqueles ares me faziam tão bem, com o sol fresquinho. As cordas do meu violão pareciam tocar sozinhas.

A criança continuava agora brincando ao som dos meus dedos e parecia que nada mais importava além da música que soava bem naquele momento e da areia em suas pernas; uma borboleta pousou em seu nariz, precisava de uma fotografia toda cena para registrar tempo tão inesquecível mesmo que simplório. A fotografia precisaria guardar aquele som das suas risadas do cheiro daquela areia e a cor do sentimento ali pousado no chão.

Eu sorri por uns instantes, por nada e para nada. Por estar assim, talvez.

Voltara para casa com uma letra que parecia agora importante e uma cantiga penetrante para quem virá ouvir.


Espere vou toca- la!

Um questionário.

“O amor é a coisa mais alegre, o amor é a coisa mais triste, o amor é a coisa que mais quero.” (Adélia Prado)


Não havia sono que amortecesse meu corpo. Consegui dormir pouco menos que três horas e foi o suficiente, minha mente trabalhava constantemente, tocava a mesma música da noite passada o tempo todo...

De pijama sentei-me na varanda, senti o vento bater forte em um dos lados da face como se quisesse me ferir, o vento gritava eu conseguia ouvir, quis dizer-me algo, não podia entender mesmo que quisesse fiquei por lá um bom tempo ali sozinha, preço nenhum pagara ouvir o próprio coração batendo forte e lento por alguns minutos. Me senti só por mais que um instante senti- me só por completo nessa manhã, até de mim.

Resolvi entrar, preparei café bem forte e fiquei um tanto melhor, mas não como queria, tudo passava pela minha cabeça da noite passada, o gosto do choro quando você chegou junto das mãos mais frias que meu corpo, parecia não estar em mim, eu contava para as minhas amigas a história que estavam cansadas de saber, contava sem entender os porquês sem compreender, isso nunca aconteceu antes, nunca me senti assim por ninguém é tão difícil! Eu dizia com a voz tremula engolindo o choro que poderia ter amado alguma vez mais não como consigo amar hoje, esse amor; Lembrava-me em ver seus olhos olhando os meus e tudo em segundos, tudo que fizera ali tão sem importância e significância ficava mais inútil em minha vida ainda depois que eu pegara o celular aos prantos e escrevera sem sucesso, muito confuso como todas as outras vezes para ele! Tudo passava em um segundo pela minha mente vagarosamente, pelo meu coração e doía como a primeira vez. Precisava bem mais do que silêncio, já me cansei do silencio pairando ele dói mais do que qualquer xingamento. Havia necessidade de algumas palavras, confortáveis ou duras, mas de algumas... Deixei a xícara de café na mesa da sala e corri para o quarto de minha mãe, deitei- me junto dela respirei e despejei o que tinha acontecido. Senti leve suas mãos em meus cabelos enquanto ouvia, assim parecia estar protegida de todas as coisas, ficamos em silêncio até que saíram doces as palavras de quem é sábia de quem quer meu bem e disse que não havia nada de errado comigo ou no que havia acontecido; eu, a questionava sem parar, ela dizia que não devia me sentir assim. Percebo, depois de muita insistência que não havia feito nenhum mal para nenhum de nós dois havia seguido em frente, só estava com medo se “em frente” era mesmo o que eu queria ter enviado algo pode ter sido desnecessário, confesso, quando a escrevi relatei que seria mesmo que muito amável um tanto quanto incomodo... Mas já havia feito. Agora me diga, por que não consigo me sentir melhor? Por que o que eu sinto me faz bem e mal ao mesmo tempo me fazendo esquecer o mal quando totalmente me sinto bem? Seria certo sentir- me como se nada houvesse acontecido? Resolveria?

Algo me prende, me rende...




“A razão é sempre mesquinha quando se coloca ao lado do verdadeiro sentimento...” (Homoré de Balzac)

Despida.

Fui capaz de andar sozinha por semanas. Ora um alívio, ora um martírio. Mas é certo que deu tempo de pensar em muito que ainda não havia pensado ou que tinha passado por reflexos na mente. Dizem que é precipitado falar antes de pensar, agir antes de pensar e de pensar antes de amar. É tão fácil mesmo com todas as minhas crenças a frente de horas complicadas me perguntar “cadê o protetor do qual venero pra todos? Deus às vezes parece se esquecer tenho até medo em dizer...”

Parei para tomar café. Cheguei fechar os olhos com a impressão de sentir melhor o aroma que entrava em minhas narinas que de tão profundo chegava a minha mente, me trazendo recordações tão antigas quanto o que já sentira algum dia.

Degustei aquele momento por uns bons minutos fazendo- me atracar em medos que há tempos não sentira mais que agora era bom sentir. Parece louco! Consegui reviver várias partes, ali sentada naquela varanda de bar aconchegante que parecia estar na casa da vovó, junto dela ouvindo as histórias tristes e gostosas de serem ouvidas. Poderia passar a vida ali. Porém resolvi levantar e caminhar um pouco sentia- me bem estar sozinha porque queria e senti o vento batendo fresco nas maçãs do rosto, aquilo sim era vida, sensação rápida e tão penetrante como aquela só sentira há anos atrás.

Foi se escurecendo, o sol ia se pondo deixando o céu cheio de cores vivas, intensas, quase escuro inesquecíveis para o momento. Encontrei um lago, sentei- me na grama, uma grama verde e fofa que dava dó de feri-la. Concentrei-me no horizonte que puxava- me como um ímã tentando tirar de dentro do meu peito e da minha mente todos os meus segredos, todos os meus medos e alegrias, senti vontade de contar já que só havia aquele pôr- do- sol, a água, a grama, o ar pura e a mim. Senti-me a vontade. Deitei- me ali mesmo. Esperei as estrelas brilharem para mim e contei todas que consegui, foram muitas e para cada uma que brilhava contei um segredo. Acho que algumas chegaram a rir dos meus medos. Gostei da minha companhia, finalmente. Agora era necessidade repetir a dose. Dias e dias se passaram e repetidamente enviava para os céus as perturbações do meu mundo, sentia- me mais aliviada, feliz por não me sentir sozinha. É tão constrangedor descobrir que fatos tão simples fazem de cada hora do dia ser uma vida fabulosa, quero me encontrar com elas todas as noites, assim despida de mim.

SoL e Ar.

"Começou o dia. Raiou o sol banhou meu corpo me senti quente como num abraço. Flutuei com meus próprios braços; Olhei pro céu sorri pras nuvens, reunidos ouvi os pássaros cantarolando e senti o frescor do ar balançar os cabelos continuei a caminhar, corri e até brinquei de andar no preto sim e no branco não. Reuni forças, me rendi. Sinto- me livre.

Fechei os olhos por quase um segundo nele vi o mundo parar e só eu a girar, girei. Consegui até sonhar, me belisquei.

Um instante!

Estou cá de volta, espere!"

Brancas, estão!

Estar sentada, rodeada de paredes brancas.

Tento me espalhar, busco outro lugar.

Quero sair, me livrar.

Sufoca-me mesmo com tanto ar sobrando e soprando sob o próprio ser. Descobri!

Descobri sim onde estou, estou dentro de mim. Consegui me ver por fora, por dentro além de todas as palavras já ditas e escritas, enfim.

Não há uma fresta para que eu possa sair?

Alguém me tira daqui?

Leva-me pro infinito mesmo que seja sem fim... Mostre-me o abismo que é mais bonito do que esta dentro de mim. Preferiria o escuro a esse branco ou marfim. Estou tonta, vejo imagens refletidas dos meus olhos. Não gosto do que vejo! Por enquanto queria me esconder, enfim.

Escorro-me pelas paredes. Derramo-me no chão! Vejo-me pelos cantos prendendo a respiração toco os lugares e sinto as dores do meu coração...

Olho pára as minhas mãos vejo que a dor está chegando ao fim, basta eu querer, sim! A pulsação desse lugar está lenta, baixa é assim que me sinto, enfim.

Melhor me afastar, ficar quieta sentada ao chão esperando uma pista chegar para aliviar o que me deixa presa com essas paredes brancas a me rodear.

Como cheguei aqui? Por mim mesma ou alguém me levou a esse fim?

Creio que na verdade conseguiram me levar para dentro do meu ser sim e que isso não é o fim mais o início de uma história, enfim...!

Voar.

Me faça derramar lágrimas salgadas e doces ao mesmo tempo, não me faça derramar lágrimas amargas.

Se era essa a intenção, sim, você é um vencedor. Conseguiu!

Juro que era saudável derramar as poucas lágrimas adocicadas que me restavam, porque de uma forma ou de outra, sentia que valia à pena por mais difícil que fosse, valia à pena cada gota.

E o gosto vinha cada vez um pouco diferente da outra, tinha ternura, respeito,saudades. Essas que caíram agora e ainda caem, derramaram com as lágrimas também do coração nas folhas ainda em branco que escrevia para você e de forma que eu não me esquecesse delas em qualquer vida que eu virá a viver.

Se era essa a intenção!

se era essa a intenção, sim, você conseguiu.

Até então, não tinha debochado do meu amor nem do meu coração. Via nas minhas lembranças que esse sentimento para você, era digno e que agora achas que não seja mais digno à você. Escute! Isso pode ter me levado ao chão, sim, se era essa a sua intenção.

Cheguei ao chão, bati os joelhos em pedras, está tudo ferido e há sangue a minha volta, está assim dentro e fora do meu coração.

Me levou a centímetros do inferno e irei voltar daqui um tempo para que eu possa voltar a voar com as outras borboletas e todos os pássaros do céu.

E depois disso tudo, do que serve todas essas minhas palavras? Sinto que nada. Completamente, nunca foram nada, mais tudo para mim.



Escrevo- te...

"Espero que acabe lendo tudo que digo aqui, porque se receber é que tive coragem de lhe enviar assim já é um ponto pra mim. Tenho andado rodeada de pessoas de tal forma que não há como estar sozinha e ao mesmo tempo sozinha completamente e também cercada de risadas que poderiam ser gostosas de serem ouvidas, de palavras que parecem fúteis e nada consoladoras, de cigarros, muita bebida inclusive jogadas ao chão e o que eu aproveito disso são só as músicas; suas letras perfuram dentro de mim fazendo sangrar em toda palavra que é dita e que me refiro á você, me fazendo lembrar você. Como se joga tudo isso de dentro como se fosse um lixo? É bem mais difícil saber que toda essa sensação apesar de doer, me faz sentir viva e com vontade de viver mesmo que seja doído lhe ver encostando suas mãos no cabelo dela para que tirassem- os de seus olhos que brilham ao vê- lo. Sinto- me presa neste mesmo olhar, sinto- me presa neste labirinto que já sei todo seu mapa, que já encontrei o fim, mais que fico entre a porta e a saída. O que faz isso de mim? Talvez eu tenha me perdido no tempo e não queira realmente voltar já não se sabe. Sei que só é possível estarmos ligados somente por um momento vivido por nós num passado que até já passou para você e que para mim está presente por todos os dias...
Agora as lágrimas não se escorrem mais pelo meu rosto pois certamente secaram, meu coração não fica corroído por fotos e lembranças, nem mesmo por suas fotos tiradas no presente. Esse coração já se acostumou com o que não é dele, concordou e não faz mais protesto. Ele só protesta agora em ser feliz (...) Assim como você é! Tudo isso pode não fazer sentido agora, mais com o passar das horas...
Da tua sempre amada."