Era um velho sistemático, inculcado, cheio de manias. Seus netos o achavam meio ranzinza, mais tinha um coração bom, grande - todos sabiam. Foi à criação, a vida que o transformou meio-que-arisco-com-todos, por medo. Medo de perder.
Quando mais jovem chegava do colégio e ajudava o pai na roça. Colhia alguns tomates quase maduros que a mãe vendia pela manhã no mercado da vila. Tomava banho e depois dava banho nos irmãos; todos eram mais novos que ele, uns seis, cinco anos cada um.
Jantavam em silêncio.
Na época não tinha tevê, era mesmo coisa para rico e ninguém ali tinha intimidade com as palavras, mesmo com todo o silêncio que a falta de tevê talvez gerasse.
Mas com os olhos...!Ternura!Compaixão!Amor!Diziam tudo com esses mesmos olhos, olhos cheios d’água, olhos cheios de brilho ou de doçura. Cheios de cansaço, cheios de esperança e desesperança também. Oh! Era tudo ali, onde mostravam o quão sinceros.
Todos dormiam cedo já que o dia também era despertado com o cantar do galo. Mas ele, o velho agora, sempre acordava no meio da noite e ligava o único radiozinho de casa, bem baixinho e ficava lá agachado, sozinho sorrindo e cantarolando na cabeça até dormir. E quando isso acontecia, o que era raro já que tinha medo de alguém o encontrar no meio da noite acordado, saía correndo quando ouvia o primeiro despertar do galo.
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